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Letícia Seneme

Relação entre microbiota e ciclo circadiano

Uma matéria publicada pela BBC News Brasil relaciona a saúde intestinal com os hábitos de sono. De acordo com a pesquisa em que os autores se basearam, a saúde da microbiota intestinal se relaciona diretamente com o ciclo circadiano e o nosso período de sono.


O ciclo circadiano se caracteriza pelo conjunto de mudanças fisiológicas que ocorrem no nosso organismo no decorrer do dia, desde os períodos de maior atividade, como manhã e tarde, até o período em que a atividade começa a diminuir, como fim da tarde e à noite. Para resumir, o ritmo circadiano é como um relógio interno que diferencia todos os momentos pelos quais passamos no decorrer do dia e que tem impacto físico e mental.

O equilíbrio do ritmo circadiano é muito importante para a nossa saúde. O desequilíbrio entre o período de sono e atividade, como dormir pouco ou até mesmo a mudança significativa do horário de alguma refeição são dois exemplos em que percebemos com clareza a importância da nossa “rotina biológica”.

Atualmente, nosso estilo de vida acaba desrespeitando em certa medida o ciclo circadiano, pois além de estarmos em menor contato com a luz natural, especialmente para quem trabalha em ambientes fechados, passamos cada vez mais tempo em frente às telas de smartphones, computadores e televisões, o que, muitas vezes, pode contribuir para afastar o sono.

Diante disso, estudos indicam que esse desequilíbrio do nosso relógio interno pode afetar a saúde da nossa microbiota e vice-versa. Muitas disfunções no ciclo estão ligadas a mudanças no metabolismo e nos processos de digestão e essas disfunções podem resultar na alteração do metabolismo da glicose, por exemplo, o que pode contribuir para ganho de peso e aumento da pressão arterial, assim como pode haver uma perturbação dos hormônios que regulam o apetite. Essas condições podem resultar em condições como: diminuição da sensibilidade à insulina, menor tolerância à glicose e uma alteração do perfil lipídico. Todos esses fatores têm impacto direto na microbiota.

A digestão é um bom exemplo da relação que o ciclo circadiano tem com a nossa microbiota. Durante o dia, a digestão ocorre de maneira mais constante, pois o intestino está ativo e em condições para absorção de nutrientes. Vale ressaltar que os órgãos envolvidos na digestão buscam sincronia entre si, por isso o atraso de uma refeição pode causar um desequilíbrio do ritmo normal do intestino, o que, por sua vez, altera a composição e função das bactérias da microbiota.

Sabemos que a microbiota é influenciada por muitos fatores, o maior deles são os nossos hábitos alimentares, portanto, a mudança de horários das refeições também têm impacto na microbiota, pois as bactérias apresentam suas próprias variações no decorrer do dia, tanto em funções como na composição propriamente dita.

Estudos indicam que as bactérias têm seu próprio ciclo circadiano (e tentam sincronizá-lo com o do hospedeiro) e que a microbiota sofre alterações por conta do desequilíbrio no ciclo circadiano, pois eles ativam ou desativam genes envolvidos no metabolismo, dependendo da hora. A relação da microbiota e do ciclo circadiano é uma via de mão dupla. O desequilíbrio do ciclo pode ocorrer de duas formas: por meio da produção de metabólitos (a partir da nossa alimentação) ou através das mudanças de horário que modulam a presença de determinadas bactérias. Os metabólitos produzidos na microbiota vão para a corrente sanguínea e podem estimular o sono.

De acordo com a matéria, o neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (que vem da fermentação de fibras alimentares na microbiota) também ajuda a estimular o sono, por meio de uma ação nos mecanismos sensoriais da veia porta (vaso que leva sangue dos intestinos ao fígado).

Ademais a microbiota também pode responder ao ciclo circadiano interferindo na quantidade de alguns grupos bacterianos, podendo até atingir um estado de disbiose, em que há a predominância de bactérias nocivas.

Vale destacar que a maior parte das pesquisas sobre essa relação da microbiota e o ciclo circadiano foram realizadas em animais, portanto, ainda há muito a ser explorado sobre esse tema.




Leia o texto na íntegra em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-64148783

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